O termo “vira-latas” era tido no passado como uma expressão de cunho pejorativo, sendo atribuído, exclusivamente, àqueles animais abandonados, sujos, fétidos, sem nome, sem raça, sem lenço e sem documento, literalmente, já que, sem raça, não tem pedigree, que é o documento do cão. Enfim, cachorro vira-lata era todo aquele que vivia largado pelas ruas, virando latas e revirando todo tipo de lixo, sempre atrás de comida.
Hoje, esses cães não menos encantadores do que os de “sangue azul”, ganharam mais respeito, aceitação e até mais popularidade, inclusive recebendo outro nome, qual seja cães Sem Raça Definida, representados pela sigla SRD.
Assim, o cão vira-lata ou SRD, atualmente, não é só aquele que vive sem paradeiro, catando lixo aqui e ali nas ruas, mas sim todo aquele cão que não descende uma única raça, não tem puro sangue, mas em contrapartida tem um puro coração!

Características
A aparência física deles é única, e digo isso no sentido de que nenhum é igual ao outro, são exclusivos, de modo que podem ser de miniatura, de pequeno, médio ou grande porte, e quem sabe até gigantes? Não há como descrever um biotipo físico, com cor, pelagem, etc , até porque eles não têm padrão.
Mas uma característica é comum a todos: a inteligência. Talvez por precisarem dar conta do recado sozinhos desde cedo, mas verdade é que todo vira-latinha esbanja inteligência e sentimentos!
De uma maneira geral, o comportamento desses caninos tão especiais não pode ser padronizado, pois cada um herdará uma porção genética do ancestral da raça que o originou. É aquela velha história: traços da doçura do Retriever, com uma gota da agressividade do Rotweiller, um pingo do stress do Pinscher e por aí vai…

Mas o que se percebe na maioria deles é que são extremamente carinhosos, leais e protetores com aqueles que elegem por dono, mas verdadeiros leões para os que representam algum tipo de ameaça contra aqueles que amam. Coragem é o que não falta no vira-lata!

Dotados também de um certo bom humor, com um jeito leve e livre de levar a vida, preocupando-se tão somente com um dia após o outro; todo cachorro vira-lata tem um lado moleque aguçado dentro de si, do tipo que surta e sai correndo atrás de bicicleta, só pra sacanear e apavorar o ciclista, que teme uma boa dentada na canela. Mas essa não é a ideia, nem muito menos a índole do vira-lata. Eles são assim, simplesmente excêntricos.

Custo de manutenção é outra questão que irá te fazer gostar ainda mais da ideia de ter um desses, pois não são cães melindrosos, cheios de frescuras, como tosas, banhos medicinais, escovações constantes, etc, sendo o gasto gerado com eles bem baixo em comparação com os de “raça pura”.
Adotando um vira-lata, você pratica um gesta de carinho, de solidariedade e acaba por exercer seu papel de cidadão na sociedade, na medida em que contribui para a redução desses animais pelas ruas das cidades, oferecendo uma vida digna, para um ser que não sabe nem pedir. É, saber pedir ele realmente não sabe, mas dá toda uma interpretação àquele olhar característico de cachorro que caiu da mudança, convencendo até o mais duro dos corações.

Exclusividade é uma peculiaridade que realmente só eles têm, afinal, você dificilmente vai encontrar outro exemplar exatamente igual o seu. A fôrma que faz o vira-lata sempre é jogada fora, e nem adianta virar a lata do lixo que não acha!

Primeiro ponto: o preconceito que eles sofrem será transmitido também a você. É bom se preparar para atitudes que denunciem pouco caso com seu cãozinho, só porque ele não pode dar “carteirada” de pura raça. Não espere altos elogios caso resolva dar um passeio com seu novo e adorável pet, principalmente se ele for um cachorro vira-lata filhote preto. A sociedade preconceituosa, na maioria das vezes, é hipócrita e só dá valor àquilo que o dinheiro pode comprar!
Um vira-lata anseia de verdade por uma lar, mas tenha em mente que, se você adotou um cão adulto, ele naturalmente já tem um personalidade formada, na qual você não teve participação, isso torna um possível treinamento um pouco difícil. Além disso, com o vira-lata, previsibilidade de comportamento nem sempre vai acontecer.

Outra questão ao se adotar um animal recolhido da rua é que eles são acostumados à vida livre, portanto, não se espante se num belo dia você deixar o portão aberto e ele se for. Não o culpe! Ele foi criado nesse sistema de independência total e, não o julgue achando-o ingrato ou que ele não te ama, alguns têm uma maneira muito peculiar de amar e de demonstrar. Mas não desanime por causa disso, pois, da mesma forma que podem ir, eles também são capazes de voltar, e podem fazer isso com tanta naturalidade como se tivessem ido apenas ali na esquina passear!
Predisposição genética a doenças é outra situação em que você terá que contar com a sorte, pois se a árvore genealógica do vira-lata não é conhecida, como saber qual enfermidade pode ser prevista?

Alimentação e cuidados
Oferecer um local apropriado para que o novo membro da família possa se desenvolver com qualidade de vida é imprescindível. Organize um local limpo e arejado para que ele possa se acomodar, um quintal com espaço razoável para ele se exercitar e vasilhames com água limpa e frequentemente trocadas para que o animal possa se refrescar já são um bom começo!

Não crie a ilusão de que, porque o cão é um vira-lata, trata-se de um animal super, hiper, mega resistente. De fato, esses cães criados inicialmente nas ruas certamente já se submeteram a mudanças climáticas bruscas, enfrentando frio, fome e calor, além de também já terem sido mais expostos a microorganismos e bactérias do que os típicos bibelôs de madame. Mas isso não dá a você, novo dono, o direito de privá-los de prevenção, isentando-os, por conta própria, de vermífugos e vacinação e demais cuidados básicos de manutenção.
Ao adotar um cão, proponha-se, realmente, a dar uma virada na vida do seu vira-lata, enchendo-o de muito amor, de carinho e atenção, respeitando sempre seus limites e hábitos adquiridos durante toda uma vida nas ruas.

Jamais tente adestrar ou educar seu cão utilizando violência, lembre-se de que foi desse meio que ele veio, e disso ele certamente já está farto. Uma nova casa, uma nova família, um novo lar representam um novo recomeço, no qual esse cão deposita toda uma expectativa de nova vida, de modo que, se você não puder contribuir de fato com isso, não o torne mais infeliz e desacreditado do que já está.

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